terça-feira, 29 de julho de 2008

(sem título #5)

Escrevo-te sentindo rios de sangue escorregar dos meus dedos.

Escrevo-te nua e crua, podre
visão de um peito que se abre como fenda
para derramar os olhares e os gestos
que prendeu junto ao mar.

Escrevo-te raiz de inferno, céu de sangue e lava
que me cobre a pele imunda,
pântano em que me banho nos dias
secos e gastos. Nos outros
soltei o diabo que vive atrás dos olhos cegos do amor,
fiz dele o meu guia na perdição.

Escrevo-te cegueira de dor, doença que destrói
as manhãs de luz
e me ataca nas margens do leito vazio do rio.

Escrevo-te monstro de fogo e tortura,
que me deixa, morte e sombra,
sobre os destroços de guerra que se confundem com o meu corpo.